É BOM LEMBRAR... 

Os cristãos leigos e leigas e membros da hierarquia da Igreja em tempos idos, e não remotos, contribuiram muito com a redemocratização do Brasil e de outros países da América Latina. O que se logrou de olhos atentos a realidade que nos envolvia e visão críticas e oposição aos sistemas que massacravam o povo, como as ditaduras impostas por golpes militares no Brasil e em países latino-americanos, mas acima de tudo os direitos e benesses que o povo conquistou através da nova Constituição no caso nosso; em tudo isso a Igreja de Jesus Cristo esteve presente, nem toda hierarquia é claro, entendendo que a profecia não se resume em anúncio, mas que sem denúncia é incompleta, a modo da síntese de Jesus na transfiguração: Moisés e Elias.

No tempo das ditaduras, governos autoritários, a Igreja foi a voz dos que não tinha voz, foi aconchego dos perseguidos e viu fluir nos seus quadros laicais, vida religiosa, diaconais, presbiterais e episcopais muitos perseguidos, presos, torturados e martirizados, como Dom Oscar Arnulfo Romero, bispo de El Salvador, um desses, que será canonizado neste 14 de outubro, como bispo mártir da América Latina. Só quem experimentou ou ao menos se deu o luxo de buscar nos livros e na memória dos antigos e ouvi os que sobreviveram, como Dom Xavier Gilles, bispo emérito de Viana, saberá um pouco do muito sofrimento em tempos de ditadura militar no Brasil; só quem é capaz de sentir com o coração a dor do povo e do outro, diz não a qualquer ameaça de retorno ao autoritarismo no país.

A Igreja "parceira dos pobres e mãe dos excluídos", como se canta em litanias nas Comunidades Eclesiais de Base gestadas e paridas no Nordeste e crescidas no Brasil e no mundo do a fora, com frutos de fé encarnada, compromisso e sinal do Reino na resistência e libertação dos oprimidos; sempre valorizando a fé e modos de crenças dos outros e trazendo pra dentro do que é nosso o bom que o Espírito suscita nas culturas e na religiosidade de nosso povo. Pois aqui se fala da vida, da fome, da injustiça, pra ver se melhora a vida de todos: unindo a fé com a transformação.

Que Nossa Senhora Aparecida, negra em tempo de negros na chibata, gerada na cor pelo fundo do rio Paraíba, numa demonstrada opção pelos escravizados de ontem e excluídos de hoje e vítimas de preconceitos de variados modos, interceda por nós e desterre qualquer ameaça de mal que interrompa as conquistas suadas de nossos avós e pais e a redemocratização de nosso país que mau goza de sua jovem democracia e não permita aos quilombolas, indígenas e povos tradicionais e aos seus territórios que as ameaças dos que só pensam em si, interrompam o sonho de regularização e demarcação, assim como a manutenção de nossa casa comum e do bem viver. Amém!

Dom Sebastião Lima Duarte
Bispo de Caxias - MA



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