SÍNODO PARA A AMAZÔNIA

SINODO DOS BISPOS – Assembleia Especial para a Região PANAMAZÔNICA 

AMAZÔNIA: Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia Integral 

1. CAPITULO I - AMAZÔNIA: DA ESCUTA À CONVERSÃO INTEGRAL 

A escuta da Amazônia, no espirito próprio do discípulo e à luz da Palavra de Deus e da Tradição, leva-nos: conversão dos planos e estruturas a Cristo e ao seu Evangelho. 

1.1. A voz e o canto da Amazônia como mensagem de vida 

Na Amazônia, a vida está inserida, ligada e integrada ao território, que, com espaço físico vital e nutritivo, é possibilidade, sustento e limite de vida. Na Panamazônia: população = 33.600.000hab; entre 2 e 2,5 são indígenas, em 9 países: Bolívia, Peru , Equador , Colômbia , Venezuela ,Brasil , Goiana, Suriname, Goiana Francesa. Região amazônica contribui: grandes movimentos de ar ao redor do planeta, equilíbrio climático; mais vulnerável e sofre ação direta do homem; contem indígenas, camponeses, afrodescendentes (quilombolas) caboclos, assentados ribeirinhos e habitantes dos centros urbanos; o ciclo da água interliga ecossistemas ,culturas e desenvolvimento do território; a realidade é pluriétnica multicultural, possui cosmovisão símbolos e significados próprios. 

Os indígenas da Amazônia integram “bem viver” e “bem fazer”, sabendo compreender a centralidade do caráter relacional transcendente dos seres humanos e da criação, mantendo harmonia com seus modos de vidas tradicionais, dialogando com a sabedoria e a tecnologia dos seus antepassados e com as novas adquiridas; os povos indígenas aspiram melhores condições de vida, especialmente na saúde e na educação. 

1.2. O clamor da terra e o grito dos pobres 

Amazônia, beleza ferida e deformada, lugar de dor e violência ameaças contra a vida: apropriação e privatização de bens da natureza, água; concessões florestais e madeireiras ilegais, caça e pesca predatória; megaprojetos; contaminação por indústria e lixões, mudança climática. As graves consequências: doenças por contaminação, narcotráfico, grupos armados, alcoolismos, violência contra a mulher, exploração sexual, tráfico humano e venda de órgãos, perda da cultura originaria e da identidade, criminalização e assassinato de lideranças e defensores do território; por traz de tudo isso os interesses econômicos e políticos dos setores dominantes, cumplicidade de governantes e autoridades indígenas; outras ameaças: desmatamento que já está em 17% total da floresta amazônica; ameaçando ecossistema, biodiversidade e mudando o cíclico da água. 

Outros aspectos dos gritos. Migração: 1- mobilidade dos grupos indígenas em territórios de circulação tradicional; 2- deslocamento forcado de povos indígenas, camponeses e ribeirinhos expulsos de seus territórios, periferia das cidades; 3- migração inter-regional forcada e a situação dos refugiados. Migração traz consigo tráfico humano violência contra as mulheres e violações dos direitos humanos; requer o trabalho pastoral permanente em rede. A vida das comunidades amazônicas ainda não afetadas pela civilização ocidental se reflete na crença e nos ritos sobre a ação do espirito e da divindade; essas comunidades cuidaram da terra das águas e das suas florestas, preservando-as; os novos caminhos da evangelização deve acontecer no diálogo com estes conhecimentos fundamentais, sementes da palavra. 

1.3. A Igreja na região amazônica 

Partindo desta escuta a Igreja deve fazer memória do seus passos, a evangelização foi um dom da Providência que chama a conversão em Cristo; apesar da colonização política e cultural, houve muitos missionários que deram sua vida para transmitir o evangelho; a missão inspirou a formação comunidades cristas, mais também a legislação como as Leis das Índias = protegiam a dignidade dos indígenas contra os abusos; muitas vezes o anuncio de Cristo se realizou em conivência com os poderes que exploravam; hoje a Igreja tem a oportunidade histórica de se diferenciar das novas potencias colonizadores, escutando os povos amazônicos para exercer sua atividade profética, apresentando Cristo em todo o seu potencial libertado e humanizador. Os mártires da Amazônia escreveram páginas gloriosas da Igreja. Ainda hoje seguidores de Jesus por causa do Evangelho sofrem contradições pela luta em favor de uma ecologia integral na Amazônia. O sínodo reconhece com admiração aqueles que lutam com risco de vida para defender a existência do território. 

1.4. Chamado à conversão integral 

O grito da terra e dos pobres na Amazônia EXIGE de nós uma conversão integral, uma vida simples e sóbria, numa espiritualidade mística no estilo de São Francisco de Assis, a ser vivida com a alegria e louvor cristão. A leitura orante da Palavra de Deus ajudará aprofundar os gemidos do espirito e nos comprometer com a “casa comum”. Conversão integral implica consequências do encontro com Jesus Cristo nas relações com o mundo, implica conversão pessoal e comunitária, implica promover a criação de estruturas em harmonia com a criação, conversão pastoral para sinodalidade; para uma igreja em saída; uma conversão ao Evangelho vivo que é Jesus Cristo, interliga com as periferias existenciais, sociais e geográficas da Amazônia, nas dimensões pastoral , cultural, ecológica e sinodal.